Artigo publicado no Boletim da UFMG - nº 1363 - Ano 28 - 22.08.2002

Desperdício eleitoral em tempos de crise
Adirson Teles*

Começou a corrida eleitoral, a luta por um lugar ao sol ou, mais precisamente, ao poder. Já está difícil encontrar um lugar que não tenha sido pichado pelos candidatos, militantes ou contratados. A poluição visual é tanta que os cartazes sobrepostos começam a se descolar, indo parar nas ruas e bueiros.
Nessa hora não há lei para punir quem polui, como normalmente acontece com as empresas que divulgam seus produtos em faixas e cartazes espalhados pela cidade, transformada numa verdadeira vitrine. O que desperta a atenção dos eleitores mais atentos — e até certa revolta — é exatamente o custo desta propaganda poluidora, considerando-se o momento crítico e a crise que assola a população menos favorecida.
Como se não bastassem as falsas promessas que permeiam os discursos de campanha, com significativa e convincente argumentação, o desperdício de dinheiro também é enorme. O orçamento ou a previsão de gasto dos candidatos para a campanha eleitoral de 2002 não condiz com a realidade. Já está passando da hora de avaliar se a forma utilizada pelos candidatos é a melhor, considerando que as promessas são muitas, mas a solução nem sempre aparece. Os temas de campanha são sempre os mesmos: segurança pública, educação, saúde, emprego e moradia.
Quatro anos depois, o que estava no esquecimento volta à tona para angariar mais alguns votos, que manterão no poder antigos políticos ou darão oportunidade a outros, que igualmente anseiam por uma oportunidade de melhorar de vida. Se, por um lado, quatro anos é pouco para realizar grandes mudanças, por outro o salário recebido no período não condiz com o valor gasto na campanha, demonstrando que existem outros fatores compensadores que a sociedade de fato desconhece.
Está na hora de os candidatos assumirem uma campanha mais objetiva, mais coerente e condizente com a realidade brasileira, minimizando o sofrimento daqueles que os têm como única esperança ou tábua de salvação. É preciso pensar em servir à pátria e ao seu povo, e não apenas priorizar o benefício próprio ou fazer o pé-de-meia. A população precisa reagir, ultrapassar os limites da mera abstenção ou do voto em branco ou nulo. É preciso pensar no Brasil, como brasileiros e irmãos que somos.
*Funcionário do Departamento de Serviços Gerais (DSG) da UFMG

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